terça-feira, 8 de junho de 2010

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O mais curto versículo da Bíblia é também um dos mais fortes. Os simples fatos da vida, olhados de perto, estão cheios de significado. O minuto que passa em silêncio é precioso: passa para sempre. Uma pergunta basta, às vezes, para definir uma vida ou para escrever um livro. Uma frase, lida de relance, traz premonições. Se Jesus dorme, que devo esperar?

A parábola, contudo, é tão conhecida e tão direta em si mesma, que o compositor evita a exegese e prefere recriar, em música, a cena familiar. Primeiro oferece as ondas sobre o mar, os ventos bravios e a fúria de Belial. Quem ouve, segue no barco, em meio à tormenta. Depois, ele faz vivo o milagre na voz de Jesus que ordena calma ao mar alto. A passagem do Evangelho tem uma certa dose de humor e ela também aparece nos exageros da partitura.

As árias terminam, assim, servindo de moldura colorida para o recitativo magnífico entre tantos, que resume e ilumina uma história quase engraçada sobre pescadores em apuros. Ele sublinha a interrogação misteriosa do versículo curto de Mateus 8, 26: homens de pouca fé, porque temeis?

Ao fim, a tela barroca perde suas cores exuberantes e seus corpos em movimento, as ondas desaparecem, e também os rostos espavoridos. Há apenas o singelo coral final que fala do fim das tempestades e dos trovões. Que fala da paz.


Jesus schläft, was soll ich hoffen?
Seh ich nicht
Mit erblasstem Angesicht
Schon des Todes Abgrund offen?

“Jesus dorme, que devo esperar?
Não vejo
Com pálida face
Aberto o Abismo da Morte?


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