sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

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Não se entende muito bem porque os anjos devem ter asas. As direções do céu e da terra e o peso dos corpos existem apenas para os seres feitos de carne. Para Deus, não existe o alto ou o baixo, o norte e o sul; e seus anjos, como o Espírito, vão por onde querem. As asas são apenas para nossos olhos, para nosso entendimento preso à Terra: em verdade, os anjos de nada precisam para nos cercar em redemoinhos, por todos os lados, pois é certo que se movem.

Assim, sempre que há anjos, sobre a manjedoura, ou chamando pastores, ou presidindo benfazejos a abertura de um novo ano, a música do compositor não fala de asas: prefere deixar esses acordes para as águias. Sempre que há anjos, as melodias flutuam em torno de nós, cheias de certo mistério, em turbilhões que diríamos sombrios, quase noturnos. Uma presença que é como o vento, para o qual não há norte, nem sul, nem alto ou baixo, bate as janelas, arrepia a pele, empurra a branca vela dos barcos.

Como o ano novo sempre chega após a meia-noite, a cantata ergue, em seguida, ao céu escuro uma prece solene, pois a boa mensagem chegou: o menino nasceu e nada mais - os portões do Inferno, o Diabo - pode nos roubar da consolação. É noite, podemos estar em febre, podemos estar com medo, mas estamos protegidos.

É, portanto, tempo de cantar, tempo de alegria, como anuncia o coral. Os anjos estão aqui e também o pequeno Jesus. Feliz Ano novo!


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