segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

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Existe um sentimento específico de pertecer a uma cidade. Ruas, praças, jardins, prédios, rios e mares vão criando, em cada habitante, uma geografia própria feita de lembranças de felicidade, imagens do amanhecer e do ocaso, o perfume do vento nas árvores, a presença dos vivos e dos mortos. Sob um nome de cidade, muitas coisas tem tradução e mais ainda se, sobre estas ruas de pedra, casas, paisagens, vem repousar o mito. Por trás da Leipzig onde todos somos tão felizes está, invisível, a Jerusalém celestial, fortalecida nos ferrolhos de suas portas, como quer o Salmo. Duas cidades que são uma, quando cantam seus louvores ao Senhor.

O coro inicial, no formato de uma brilhante abertura francesa, celebra a aparição de Leipzig como Jerusalém ou, no mesmo instante, a instalação do Conselho Municipal. Em seguida, deixa que a polifonia, uma imagem dos seus cidadãos, repita as palavras do Salmo 147. Daí em diante, as árias enumeram as bençãos dos que vivem na cidade das tílias e agradecem pelo bom governo, sempre uma dádiva dos Céus, de acordo com a estrita leitura paulina. As duas árias, contudo, apenas preparam o grande Coro.

Brilhante polifonia vocal e instrumentos de festa, tambores, trompetes declaram que o Senhor grande Bem fez à cidade. Música à altura da ambição cósmica do compositor, igualando por meio do som a Jerusalém celestial e a Leipzig terrena. Música que não se esquece.

No fim, um coral tradicional, pois o conselho quer logo embora, a festa espera nas ruas e os habitantes da cidades das tílias querem gozar dos bens de Deus, enquanto imaginam estar em Jerusalém.



Leipzig, 1720.

Um comentário:

  1. Jerusalém! Jerusalém cidade do principe da paz, és adornada de esplendor, em ti não há problemas poís tens a proteção dos céus. Tu estás adornada de um perfeito amor.

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