sábado, 13 de fevereiro de 2010

206

Nenhum filósofo há de curar minha alegria. Outros sentimentos podem ser purgados como doença seja no palco de um teatro, seja no susto de um trem-fantasma. Que poemas tristonhos levem de mim todas as lágrimas possíveis, a saudade de meus avós e o que poderia ter sido e não foi. Assim estará muito bem. Minha alegria, não! Quero-a bem guardada em minha alma para uso diário, gota a gota, não vou jogá-la ao vento em uma canção barulhenta.

E por isso a música feita para os rios da Saxônia, para aquela quinta-feira de outubro, não deve ser muito ouvida. Sua substância é o júbilo e a brincadeira feita com as ondas; sua lei, um poema de aniversário; sua promessa, o prazer de viver, pois perto de muita água todo mundo é feliz. A festa acabou há muito tempo e todos os que a cantaram estão agora mortos, mas essa música ainda quer roubar sua alegria, fazer sorrir e dançar até você cansar.

São tantas as maravilhas! Tritões nas ondas dos rios, um monarca dedicado ao amor, à beleza e à paz, açudes musgosos, águas tranquilas, flautas, ninfas e grotas: a idade do Ouro transposta em música. O passado oferece ao futuro invejoso a imagem da felicidade vivida e gozada.

Ao fim, sempre entristeço. O tesouro da alegria tanto guardada deixou algumas moedas douradas caírem nas ondas dos rios. As recolheram antigos fantasmas, reis saxões, figuras mitológicas, fontes e açudes; não estão mais comigo. O coro final, ao menos, promete, para o futuro, mais contentamento e prazer: é assim que seguem os rios.



Schleicht, spielende Wellen, und murmelt gelinde!
Nein, rauschet geschwinde,
Dass Ufer und Klippe zum öftern erklingt!
Die Freude, die unsere Fluten erreget,
Die jegliche Welle zum Rauschen beweget,
Durchreißet die Dämme,
Worein sie Verwundrung und Schüchternheit zwingt.


Deslizai, ondas a jogar, em delicado murmúrio!
Não, ide rápidas,
Fazei soar Margens e Rochedos!
A Alegria que faz crescer nossas Torrentes,
Que cada Onda a quebrar encaminha,
Transborda os Açudes,
Que suas surpresas e modéstia contêm.



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