segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

96

Não sabemos qual era a cor dos olhos de Elizabete. Sua vida de menina, criada em um monastério, sempre será um segredo, mas, ao fazer 22 anos, abandonou o hábito e a fé de seus pais e de sua gente. Converteu-se ao luteranismo e fugiu para Wittenberg, onde viveu na casa de seu mentor até casar-se com Gaspar, quatro anos mais novo. Teve uma filha e um filho; faleceu aos 35 anos de idade. Gaspar casou-se novamente.

Por mais que se procure, nada mais se achará, senão que Elizabete escrevia poemas. Naqueles tempos difíceis, em meio a violentas polêmicas teológicas e guerras religiosas, compôs versos que mereceram atenção e foram recolhidos por coleções de hinos, chegando aos dias de hoje. No século XXI, publicações feministas mencionam a primeira poetisa do protestantismo, uma justa exaltação.

Existem mesmo, contudo, diferenças entre versos escritos por um homem e por uma mulher? Se não soubéssemos que saíram de sua pena, diríamos que são versos de uma moça da Pomerânia? Por que homens tão ocupados e sérios reconheceram seu engenho e sua arte? Ninguém sabe, nem saberá, mas talvez seja possível revelar a graça feminina dessa poesia.

Um autor, pai de meninas, poderia compor a música que expõe o segredo da imagem singela e da ternura direta. A melodia e o coral dizendo que Jesus é a estrela da Manhã, pois seu brilho é maior que o de todas as estrelas. Lá estão a valsa, a voz do soprano e o sopro inesgotável do flautim. Música que bem poderia ser composta por uma moça alemã.


Herr Christ, der einge Gottessohn,
Vaters in Ewigkeit,
Aus seinem Herzn entsprossen,
Gleichwie geschrieben steht,
Er ist der Morgensterne,
Sein' Glanz streckt er so ferne
Vor andern Sternen klar.


Senhor Cristo, filho unigênito de Deus,
Pai na Eternidade
De seu Coração germinado,
Conforme está escrito,
Ele é a Estrela da Manhã,
Seu Brilho tão longe alcança
Mais claro que as outras Estrelas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário