sábado, 20 de março de 2010

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Sobrepor música a um coral é exercer a arte do comentário. O poema e a venerável melodia têm o seu lugar determinado no calendário e no culto; todos estão a par de seu sentido cotidiano. Assim, dar a Deus o louvor e a glória parece demandar um solenidade específica, mas o autor aqui sugere uma dança, no ritmo da alegria, como se louvar a Deus fosse coisa leve e divertida. Afinal, insiste o poema, ele fez maravilhas e nosso ânimo enche de amparo.

Mal encerrado o coro, este sucesso já parece minguado. Um comentário, por mais brilhante que seja, está condenado a acompanhar o texto que examina ou a canção que exalta. Apresentar uma nova versão para a alegria do louvor é coisa fácil, um feito quase protocolar.

Então, como quase sempre, uma ária para alto revela uma outra intenção. Não basta a alegria e vem a promessa de cantar, por toda a vida, a glória do Senhor; espalhar seu louvor por todos os cantos. Nesses momentos de confissão, vem o som das flautas e uma melodia cheia de ternura.

Não seria excessivo ouvir nessa ária tão delicada e gentil um testemunho de seu próprio autor, que também passou sua vida a espalhar, por toda a parte, o louvor de Deus. Na obra quase convencional em seu fundamento litúrgico, estamos ouvindo nesse ponto coisa bem mais íntima, quase um testamento, sublinhado com uma melodia inesquecível.


Sei Lob und Ehr dem höchsten Gut,
Dem Vater aller Güte,
Dem Gott, der alle Wunder tut,
Dem Gott, der mein Gemüte
Mit seinem reichen Trost erfüllt,
Dem Gott, der allen Jammer stillt.
Gebt unserm Gott die Ehre!

Louve-se e honre-se ao Bem Supremo,
Ao Pai de todos os bens,
Ao Autor de todos os milagres,
Ao Deus que o meu ânimo
Com abundante consolação robustece,
Ao Deus, que apazígua todas as mágoas.
Glorificai o nosso Deus!




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