quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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A música e os rios, de várias maneiras, são feitos de tempo. É da sua essência passar e nada mais fácil, portanto, do que expor, em música, o curso das águas de um rio. Corredeiras, cascatas, torrentes e mesmo simples gotas d'água têm uma fácil tradução musical, tão fácil que o mérito de um autor não está na associação, mas em sua chave. Primeiro, não estamos em um rio qualquer, mas no Jordão; depois, não estamos diante de uma cena bucólica, mas do batismo de Jesus; por fim, estão descritas as rasas águas, que correm entre pedras até as mãos de João, o Batista.

Até esse momento, portanto, a maravilha é pouca. As águas, contudo, não correm apenas nos rios; elas seguem também nas veias de um homem. O sangue derramado e as águas que batizam são feitos da mesma substância e podem ter expressão musical semelhante. Em lugar das torrentes feitas de cordas, um coração apenas, que pulsa ao som do violino.

Assim, nesse momento, a maravilha ainda é a mesma. Qual a razão, contudo, de todo esse teatro se não a promessa de Jesus? Quem crer e for batizado, esse será salvo e o segredo de toda a música se resolve no verso que, sem dúvida, acredita. Sobre ele estão os acordes que revelam a bondade de Deus para os que teriam dificuldade em crer.

As águas do rio Jordão e sua música não são, portanto, uma paisagem e seu comentário. São severas alegorias barrocas: escondem o sangue de Jesus e a voz de Deus. Como disse o coral, "os olhos viram apenas a água".


Christ unser Herr zum Jordan kam
nach seines Vaters Willen,
von Sankt Johann die Taufe nahm,
sein Werk und Amt zu erfüllen;
Da wollt er stiften uns ein Bad,
Zu waschen uns von Sünden,
Ersäufen auch den bittern Tod
durch sein selbst Blut und Wunden.


Cristo nosso Senhor veio até o Jordão,
segundo a vontade de Pai,
junto ao santo João, o Batista,
sua obra e destino cumprir.
Para nós um banho sagrou,
para de todo o pecado lavarnos,
ainda afogando a amarga morte
em suas chagas e sangue.


2 comentários:

  1. Já dizia Heraclito:"Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque as aguas nunca são as mesmas e nos nunca somos os mesmos".

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