segunda-feira, 8 de março de 2010

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Elisabete Juliana foi batizada no dia 5 de abril de 1726. Tinha um apelido familiar - Lieschen - e casou tarde para uma moça de seu tempo, em janeiro de 1749, aos 23 anos de idade. Devia ser bonita e prendada, pois foi a única de suas irmãs a casar, mas teve ajuda de seu pai. O marido, João Cristóvão, era seu aluno e ganhou o primeiro emprego por sua indicação. Elisabete não tinha como saber, no dia de suas bodas, que ficaria viúva uma década depois, nem que seu filho, que levava o nome famoso não compleria um ano de idade.

Em janeiro de 1749, a noiva não precisava se preocupar, ao menos, com a música de suas bodas. Seu pai estava nesse negócio há algum tempo e a família certamente ganhava também seu pão cantando e tocando em casamentos. Com que gosto, então, não cantaram e tocaram naquele dia tão belo para Elisabete Juliana.

Bem pode ter sido essa música que descreve com a mais espantosa doçura a simples entrada da noiva na igreja ao lado de seu pai: ela é a flor que anuncia o reino de Flora. Bem pode ter sido a música que divertida lembra que melhor que os deleites de Flora são os deleites do Amor. Nenhum casamento teve música mais brilhante.

Ao fim da cerimônia, naqueles dias, os noivos recebiam a partitura devidamente enrolada, atada com um laço de fita vermelha, como um presente de casamento e testamento do artista que modestamente iluminou a humana festa. Se naquele dia, seu pai entregou a Elisabete esta partitura, que presente não foi!


Weichet nur, betrübte Schatten,
Frost und Winde, geht zur Ruh!
Florens Lust
Will der Brust
Nichts als frohes Glück verstatten,
Denn sie träget Blumen zu.


Ide-vos, tristes sombras,
Vento e Geada, descansai!
O deleite de Flora
Aos Peitos há de trazer
Nada senão Ventura,
Pois ela vem plena de Flores.

 

2 comentários:

  1. Luciano, você é um manancial de um imenso deserto, seja por isso duradouro. AA

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  2. Poxa, obrigado! Vamos caprichando, como dizia o Nelson Rodrigues...

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