sexta-feira, 16 de abril de 2010

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É música que desvela a beleza além das palavras, mas por que não tentar ao menos capturar esse suspiro de felicidade? Ela é como a sensação de fazer o bem em segredo, como pediu Jesus; é como velar o sono de quem dorme sob nossa guarda; como o azul que só existe nas memórias de infância; como a delícia de cantar versos tão belos, o prazer de usar a voz e ouvi-la cantando a felicidade; é como aquela tristeza peculiar que nos vêm quando a tarde cai e estamos em maio.

É como o prazer de estar agasalhado em um dia muito frio; de guardar um segredo muito bom; é música feita para despertar devagarzinho e feita para dormir enquanto o sol se põe; é música para a janela do avião quando há tantas nuvens brancas e a linha do horizonte se tinge de vermelho. Vamos ouvindo, mas ela vai cansando as palavras e desbotando as imagens, seguindo sempre à frente.

Não se deve, portanto, ouvi-la muitas vezes. Quando termina, ficamos tristes: não somos dignos de sua companhia. Como a ninfa das ilhas, ela permanece sempre jovem e bela, enquanto envelhecemos. Precisamos partir.

O deleite desse mundo é apenas um reflexo, uma lembrança, um amparo enquanto a ventura celestial não chega. Então, não é surpresa que a última ária fale alegremente do desgosto de viver. Que nos resta aqui na Terra depois de provar desta sombra da felicidade?



Vergnügte Ruh, beliebte Seelenlust,
Dich kann man nicht bei Höllensünden,
Wohl aber Himmelseintracht finden;
Du stärkst allein die schwache Brust.
Drum sollen lauter Tugendgaben
In meinem Herzen Wohnung haben.


Deleitosa Paz, amado desejo da Alma,
A ti não se encontra no Inferno dos Pecados,
Mas justo na Concórdia do Céu;
Apenas tu fortaleces o fraco Peito.
Assim hão de os altos dons de Virtude
Em meu Coração Morada encontrar.


2 comentários:

  1. "Vou-me embora pra Pasárgada

    Vou-me embora pra Pasárgada

    Aqui eu não sou feliz

    Lá a existência é uma aventura

    De tal modo inconseqüente

    Que Joana a Louca de Espanha

    Rainha e falsa demente

    Vem a ser contraparente

    Da nora que nunca tive".
    (Manoel Bandeira)

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