quarta-feira, 28 de abril de 2010

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Por várias vezes, caminhando pelas ruas do Rio de Janeiro, fui abordado por pregadores evangélicos que me perguntavam com ênfase se havia recebido a Jesus em meu coração. Por não ser um dos crentes e mesmo sem muita certeza sobre a sinceridade dos que me interrogavam, não deixava de sentir o desafio espiritual lançado por aqueles humildes personagens, em seus ternos baratos, suas Bíblias puídas, ao condescendente e racional estudante universitário. A fé em Jesus é uma fé como tantas outras a questionar o homem com sua exigência extrema de compromisso existencial.

Foi também nas ruas do Rio de Janeiro onde encontrei a loja de discos usados em que comprei um velho LP com essa música. Desde que ouvi sua sinfonia e seu coro pela primeira vez, imagino ter compreendido melhor o desafio evangélico e também a arte de seu eminente autor. Eles cantam a entrada de Jesus em Jerusalém, no domingo de Ramos, mas na verdade a música não trata da famosa cidade e apenas faz referência ao evento do Evangelho. A música é sobre a entrada de Jesus no coração de cada um, ao mesmo tempo com humildade e com festa. Um cântico de boas vindas para aquele que nada quer lhe roubar.

As demais árias, todas brilhantes e cheias de ternura, vão recapitulando as várias experiências pessoais de quem recebeu a Jesus, a contemplação de seu amor, o sentido de submissão, o desejo de segui-lo no bem ou no mal.

A solução de toda obra, contudo, vem no coro final. Nele está evidente que o Rei dos Céus abre o caminho para a Salém da Alegria, mas quem o segue de perto, jogando ao alto guirlandas de música, é o autor dessa obra tão delicada e emocional.



Himmelskönig, sei willkommen,
Laß auch uns dein Zion sein!
Komm herein,
Du hast uns das Herz genommen.


Rei do Céu, sê bem-vindo,
Deixa-nos ser tua Sião!
Vem, vem,
Tu hás nosso coração cativado.



2 comentários:

  1. A cena de Jesus entrando em Jerusalém, é muito mais do que descrita na formalidade biblica, e demonstrada em filmes.
    Ela é gloriosa, o principe da paz estava entrando e a multidão louvava e regozijava de todo o coração e de sincero amor.
    Então Cristo, movido de intima compaixão disse-lhes; SE ESTES SE CALAREM AS PEDRAS CLAMARÃO.

    Talvez sejam os evangelicos, estes citados na biblia que aida clamam, pelo principe da paz.

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  2. Tagliavini ("Estudos sobre o Texto das Cantatas Sacras de J.S. Bach", 1956) escreveu exatamente isso: trata-se da entrada de Jesus no coração do crente. Amável coincidência.

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