segunda-feira, 26 de abril de 2010

181

Haveria uma música para a frivolidade humana? Nada de brilhos e fanfarras vienenses para celebrar passatempos, mas uma música moral capaz de condenar a tolice e a perda de tempo com assuntos irrelevantes sem o rigor sombrio de um sermão. Sem infundir beleza ao que não tem substância e sem investir em carolice. É o que faz essa falsa música galante, cheia de saltos e notas rápidas.

Depois, certa agitação ao órgão começa a lembrar dos riscos das preocupações terrenas, o alimento do fogo eterno e do tormento do inferno. Depois de falsear a si mesmo, a música retoma a seriedade e a angústia diante das consquências de nossos atos. O peso da recusa da Palavra.

A obra, contudo, não pode terminar nesse confronto preocupante entre a frivolidade e as penas prometidas aos inconsequente e aos tolos. A Palavra precisa retomar o brilho de sua promessa e o coro final restaura a seriedade estética com uma bela frase para o trompete e a elegante polifonia vocal. Esta sim é a verdadeira alegria da alma.

A idéia de música como sermão ou mera expressão de uma lição ética costuma dar origem a mistificações das mais variadas ou empoladas reinvidicações de superioridade moral. Ou mesmo errar completamente o alvo, elogiando o vício a ser denunciado. Não é o caso, aqui.


Leichtgesinnte Flattergeister
Rauben sich des Wortes Kraft.
Belial mit seinen Kindern
Suchet ohnedem zu hindern,
Dass es keinen Nutzen schafft.

Frívolos espíritos agitados
Roubam de si o Poder da Palavra.
Belial com suas Crias
De todo jeito a prejudica
Para que não tenha Proveito.


Nenhum comentário:

Postar um comentário