segunda-feira, 19 de abril de 2010

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São muitos os paradoxos criados pela presença imediata de Deus na História e assumir a carne e o sangue de um homem não é o menor deles. Esse é o escândalo da religião de Cristo. Muitas heresias se levantaram em revolta contra a presença do insondável Criador do Universo na matéria da frágil forma humana. A poesia e esta música não parecem estar, portanto, à altura da ocasião.

Os versos registram sem maior brilho a abundância dos bens enviados por Deus aos homens, a obrigação de cantar em agradecimento e de apresentar a boa oferenda. A deliciosa música, ao que tudo indica, veio de uma prosaica celebração secular e presta seus respeitos à boa ordem no principado de Kothen. Há quem veja nesta conjugação de verso e música apenas um exemplo de expediência artística.

Pensemos, contudo, um pouco mais, movendo nosso ponto de vista do espantoso milagre cósmico da Encarnação para seu sentido mais terreno. E se subitamente nossa carne e nosso sangue tão vulneráveis à dor, à doença, ao sofrimento, recebessem a promessa da redenção?

Não seria o mundo, então, doce como uma serenata musical? A exaltação de Deus não estaria cheia de amor como um leve dueto italiano? Bem seria uma forma de transfiguração: Jesus trouxe a paz e essa é a música da paz.


Erhöhtes Fleisch und Blut,
Das Gott selbst an sich nimmt,
Dem er schon hier auf Erden
Ein himmlisch Heil bestimmt,
Des Höchsten Kind zu werden,
Erhöhtes Fleisch und Blut!


Carne e Sangue exaltados,
Que Deus sobre si mesmo tomou,
A que ainda na Terra
Uma celestial salvação foi outorgada,
para que se façam Filhos do Altíssimo
Carne e Sangue exaltados.


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