quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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A existência de Deus não resolve os problemas do Infinito. Em verdade, a alma pode contemplar sem estranhamento e sem angústia as vastidões estreladas do espaço, pois o Deus que se fez Homem é também o criador das galáxias, aquele que fixou o curso do tempo imensurável. A glória da Criação - a infinitude do Universo e a finitude do Homem - é a mesma. O Deus que é bom, contudo, é o Deus que é justo e Ele julgará os homens do dia do Juízo e também eternos serão o castigo e salvação. Eternidade, eis o problema: ela pesa tanto sobre a ventura e como sobre a atroz punição.

A um artista imaginoso não escaparia o espanto de um tal contraste. O primeiro coro, portanto, eleva o espírito à contemplação dos espaços infinitos, lentamente, como alguém que ergue seus olhos ao céu estrelado e pouco a pouco compreende e se maravilha: Ó eternidade! A abertura francesa se estende em uma saudação ao grandioso Universo, que abala nosso coração e cala nossa língua. Um coro que diz, em seu verso final, que não pode mais falar.

A eternidade não é, contudo, uma brincadeira. Eternas são as chamas, eternos o castigo e o penar. O coração se angustia, pois dura tanto a eternidade. E o remorso vem, o medo, quando o pensamento segue para as ações e o pecado. Música feita para a desolação.

A única solução, todos sabem, a única esperança é o caminho do Bem. Um conselho cheio de doçura, destinado aos homens ainda perturbados pelo Infinito e pelo Inferno: liberta tua alma. Há compaixão nessa música.

O Ewigkeit, du Donnerwort,
O Schwert, das durch die Seele bohrt,
O Anfang sonder Ende!
O Ewigkeit, Zeit ohne Zeit,
Ich weiß vor großer Traurigkeit
Nicht, wo ich mich hinwende.
Mein ganz erschrocken Herz erbebt,
Dass mir die Zung am Gaumen klebt.


Ó Eternidade, tu Palavra do Trovão,
Ó Espada que transpassa a Alma,
Ó Início sem Fim!
Ó Eternidade, Tempo sem Tempo,
No grande Luto eu nada vejo
Para onde possa me voltar.
Meu Coração aterrorizado treme,
Minha língua cola no céu da boca.



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