quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

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Uma arte programática floresce apenas no limite de suas intenções. Comprometida com uma mensagem, vai perdendo de vista a ambiguidade da vida humana. Chorar é somente chorar; o riso é sempre o riso. A linguagem escrita ainda tem à sua disposição as sete formas da imprecisão; a música não tem o recurso da ironia e corre o risco - ainda pior - do descabido. Nenhum compositor criaria melodias alegres para versos fúnebres.

Talvez não estejamos, contudo, diante de uma arte programática ou de um mero compromisso com o calendário religioso. Uma meditação, nesse ponto, causa estranheza. O crente que diz não temer a Morte, pois confia na promessa de Jesus, não deveria estar tão pesaroso. Essa melodia, claramente, não transmite uma confiança incontestável: há nela um mistério.

É porque estamos aqui ouvindo, quem sabe, não a prece confiante de quem crê, mas a mágoa de quem muito sofreu e intimamente se pergunta qual a razão desse padecer. A Fé não elimina o problema do Mal, mas o exalta. Bento XVI, naquela cidade polonesa, também indagou sobre o silêncio de Deus.

A música dessa ária certamente não pretende propagar a descrença e a desilusão. Confia em Jesus, mas está perplexa e ferida.


Herr Jesu Christ, wahr' Mensch und Gott,
Der du littst Marter, Angst und Spott,
Für mich am Kreuz auch endlich starbst
Und mir deins Vaters Huld erwarbst,
bitt durchs bittre Leiden dein:
Du wollst mir Sünder gnädig sein.


Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e homem,
Ó tu que sofreste o Martírio, o Escárnio, a Angústia
Por mim na Cruz finalmente morreste
E para mim o Indulto de teu Pai conquistaste,
Imploro por teu amargo Penar:
Concede a graça a mim Pecador.




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