quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

78

Morava em Suzhou, cidade dos lagos e dos canais, um grande sábio chinês. Gostando demais de uma vida de prazeres tranquilos, encontrou uma maneira singular de exibir seu gênio e sua imaginação, sem consumir muito de seu tempo. Alegando que apenas o Imperador poderia escrever uma literatura digna dos espíritos celestiais, tomava a liberdade de editar, modificar, corrigir, melhorar, ampliar e comentar livros produzidos pelos demais escritores de grande imaginação, mas pouca arte. Se tinha uma boa noite de bebedeira, poderia mesmo escrever longos prefácios explicando a nova obra e até mesmo inventava uma biografia nobre para um autor mais plebeu. Para que escrever novos livros, pensava enquanto comia suas melancias, se podemos melhorar os que já existem?

Sempre curioso, o grande sábio chinês andava por muitas cidades e chegou certa vez a um porto onde os bárbaros do oeste vinham vender suas mercadorias e exibir seus grandes narizes. Em um dos navios, viu o que imaginou ser alguma cerimônia com música e pessoas cantavam. Surpreendido e encantado, foi saber do que se tratava. Os bárbaros faziam um som jamais ouvido e suas vozes se misturavam de um modo que lembrava ao grande sábio os seus procedimentos com o texto alheio.

Sempre simpático, o grande sábio chinês quis saber se alguém no navio poderia lhe informar do que se tratava e um dos bárbaros do oeste, sempre insistindo em trazer suas religiões infernais para os domínios do Imperador, explicou-lhe do que se tratava. O grande sábio agradeceu e retornou desconfortável para os frescos canais de sua Suzhou, cidade das pontes de pedra.

Naquela noite, bebendo com amigos, percebeu que nada poderia fazer com respeito àquela música. Não atinava onde poderia ser melhorada, como ganharia mais perfeição. Depois de anos se imiscuindo genialmente nos rudimentos alheios, estava sem saber o que fazer. Intrigado, fez dois gracejos sobre os bárbaros do oeste e mandou um menino soltar mais fogos de artifício, pois gostava do cheiro de enxofre na noite.


Jesu, der du meine Seele
Hast durch deinen bittern Tod
Aus des Teufels finstern Höhle
Und der schweren Seelennot
Kräftiglich herausgerissen
Und mich solches lassen wissen
Durch dein angenehmes Wort,
Sei doch itzt, o Gott, mein Hort!


Jesus, tu que minha Alma
Com tua amarga Morte
Das trevas Infernais do Diabo
E da pesada tristeza da Alma
Poderosamente arrebataste
E que tal me deixaste saber
Por meio de tua gentil Palavra
Sê agora, Ó Deus, meu Refúgio!


Nenhum comentário:

Postar um comentário