terça-feira, 5 de janeiro de 2010

80

Quão variada é a idéia de dueto! Podem ser as mesmas vozes, um pouco diferentes, muito diferentes; o canto pode ser em uníssono, em cânone, em contraponto. Por vezes, o poema é o mesmo; por vezes diferente. São ouvidas perguntas, respostas, interjeições e seduções. Na verdade, não existe uma receita fixa e a melodia pode ser lenta, pode ser rápida e pode ser a capela. É uma mera idéia, sustentada pelo conceito de número dois, uma estrutura, uma conveção. A qualquer momento, um dueto pode ocorrer e nem percebemos.

Assim, tudo o que é nascido de Deus está destinado à vitória. Uma afirmação direta, fundamental, quase um fato para quem crê, e, realmente, com nossa própria força nada é feito e estaríamos perdidos. Luta - e a palavra das cordas é exatamente essa - por nós o verdadeiro homem que Deus mesmo escolheu. Nesse ponto, o dueto é belicoso, ergue o estandarte de sangue do Cristo, o juramento no Batismo, ameaça com a predestinação. O soprano não se contém e convoca o Deus hebreu dos Exércitos, "não há outro Deus" e decide que o campo de batalha será defendido a todo custo. Cordas, vozes, ritmos: o dueto é uma parceria de combate, irmãos em armas.

É uma música violenta, não há dúvida sobre esse ponto, e clamar que Deus é uma sólida fortaleza ganhou, nos últimos anos, uma ressonância sombria. Expulsa dos ritos religiosos há pelo menos dois séculos, ela ainda precisa ser explicada e protegida por uma leitura existencialista e individual.

Por esse exato motivo, aliás, é que o soprano, responsável pelos versos mais agressivos e ameaçadores, recebe a missão de cantar um outro pedido, uma visita à casa do coração. Mundo e Satã, fora!! É isso e só isso.

Ein feste Burg ist unser Gott,
Ein gute Wehr und Waffen;
Er hilft uns frei aus aller Not,
Die uns itzt hat betroffen.
Der alte böse Feind,
Mit Ernst er's jetzt meint,
Groß Macht und viel List
Sein grausam Rüstung ist,
Auf Erd ist nicht seins gleichen.


Uma sólida fortaleza é o nosso Deus,
Uma boa Defesa e Arma;
Ajuda a nos livrar de toda Tristeza,
Que justo agora nos aflige.
O velho e mau Inimigo,
Para valer ele intenta
Grande Força e muita Malícia
São sua cruel Armadura;
Na Terra, não há seu igual.



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