quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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Ele tem o segredo da música para a paixão. Há que ser dolente e cautelosa, pois o coração apaixonado está vulnerável e caminha como uma criança indefesa. A música da paixão é também solene: a ambiguidade da vida e das palavras já ficou pelo caminho e não há mais como rir, nem do quê. Pressentimentos terríveis são anunciados porque recuar será impossível, o sofrimento é inevitável e, na verdade, é buscado como o caminho para a redenção e a morte. A paixão, todos sabemos, termina na morte.

Essa música não precisa estar apenas no lamento de Pedro, que três vezes traiu a Jesus, no coral sobre o paciente cordeiro das dores, no acalanto para um homem morto ou no reconhecimento de que, verdadeiramente, sim, verdadeiramente, aquele era o Filho de Deus. Ela tem uma tonalidade que de pronto reconhecemos. A música da paixão pode espreitar os versos da confissão e do pedido de paz.

O mesmo coração que cercou suas criações com a matemática dos sons legou ao futuro a música da paixão, uma humana meditação sobre aquele, inocente, que morreu por todos. Generoso, deixou também que ela soasse sobre o sofrimento do pecador, aquele, como se fosse culpado, morrerá como todos.

Essas são, contudo, apenas palavras, que não são dignas nem de descalçar as sandálias da música da paixão. Um singelo milagre.



Ach Herr, mich armen Sünder
Straf nicht in deinem Zorn,
Dein' ernsten Grimm doch linder,
Sonst ist's mit mir verlorn.
Ach Herr, wollst mir vergeben
Mein Sünd und gnädig sein,
Dass ich mag ewig leben,
Entfliehn der Höllenpein.


Ah, Senhor, pobre de mim pecador,
Não me punas em tua Cólera,
Modera tua ira severa,
Ou estarei perdido.
Ah, Senhor, que sejam perdoados
Meus pecados e tende compaixão,
Para que possa para sempre viver,
E escapar das penas do Inferno.




2 comentários:

  1. Composição inspirada por Deus,que transbordam as nossas almas de jubilos e paz.
    Poucas palavras,palavras de um tolo, porem não podia de modo algum deixar de comentar algo, nem que fosse somente uma palavra.

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  2. Como disse Schumann: "todos somos tolos diante de Bach".

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