Compreender uma obra prima, contudo, pode não ser tão óbvio. Os tempos modernos, com sua obsessão publicitária com o gênio artístico e com o sucesso financeiro, têm uma visão simplória da grande arte: existe apenas o best seller, o disco de platina, o prêmio Nobel e outras etiquetas similares. Entretanto, o coral Jesus bleibet meine Freude, o pop, o casamenteiro, o toque de telefone celular Jesus Alegria dos Homens foi ouvido a primeira vez sem deixar um registro sequer. Ganhou sua popularidade atual apenas com a versão para piano de Myra Hess, publicada originalmente em 1926. No momento em que o rádio emergia como meio de comunicação a versão para piano pode ter aberto o caminho para uma estranha popularidade.
Essa popularidade, na verdade, ainda hoje obscurece a composição original, onde se pode encontrar canções maravilhosas em engenho, fé e sensibilidade, poesias de alto nível literário, um encantador episódio do Evangelho e pelo menos outra excepcional obra prima, o coro Coração e Boca, Atos e Vida. Este último, por sinal, mais antigo, composto em Weimar. As duas versões mostram, por sinal, que o compositor gostava mais do coro inicial.
Essa, na verdade, pode ser a marca da obra prima. O autor apenas suspeita do valor de sua criação, os primeiros ouvintes nem a recordam direito, os séculos passam, seu conteúdo complexo é visto de outra maneira, seu estudo constante revela mais e mais ângulos. Surge um culto privado da obra prima. No fundo, ela continua tal como no seu primeiro dia; é tão grande que não podemos vê-la inteira. Sentimos sua presença e compreendemos em parte.
Herz und Mund und Tat und Leben
Muss von Christo Zeugnis geben
Ohne Furcht und Heuchelei,
Dass er Gott und Heiland sei
Myra Hess (1895-1965)
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