quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

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Nada como um dia depois de outro. Em qualquer série - de números, de eventos, de memórias - acrescentar um novo termo pode demonstrar inexoravelmente uma lei, mas pode mudar completamente o sentido do que foi acumulado até o momento. A distância entre os termos pode apontar para o infinito divergente e pode permitir o cálculo total de sua soma. Uma memória a mais pode apagar outras tantas ou modificar as demais. A vida humana sempre termina em um ponto, mas quantos são os pontos faz toda a diferença.

As convenções da música sempre buscaram ordenar o acúmulo de suas séries - movimentos rápidos, movimentos lentos, movimentos rápidos, aberturas, rapsódias. Trata-se de impor uma narrativa sobre o mero acontecimento. É óbvio, contudo, que existe um curso inverso: o acúmulo do díspar. Deixar que alguma ordem seja produzida pela agregação de experiências lúdicas, unidas apenas por uma motivação extramusical, um sistema qualquer de referência, como alguém que amarra juntos muitos balões coloridos.

E assim foi feito. Há um solene coro que traz música a um salmo do sábio rei, depois uma invocação, mais à frente diz que o Dia e a Noite são do Senhor. Bom, segue-se uma fanfarra que não tem nada a ver, como se diz hoje. Nesse momento, uma oração comparando as almas e as pombas. E tudo termina com uma experimentação vocal para desejar tudo de bom ao Imperador José. Quem esteve na festa não entendeu nada.

O pior de tudo, pior mesmo, é que essa espantosa confusão de sons, trompetes, granizos, tímpanos, pombas, flautas, noites, dias, gente com oitenta anos, programação de enterros, música para vereadores, absolutismo para principiantes, termina no ar, subitamente, onde os sopros param, sem dizer mais nada. Progressão finita, série encerrada. Ponto.

Gott ist mein König von altersher, der alle Hilfe tut, so auf Erden geschicht.

“Todavia Deus é o meu rei desde a antiguidade, operando a salvação no meio da terra”. (Salmos 74:12)



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