sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

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Na verdade, é só uma forma de calcular. Chove agora, a água está correndo para o lago Paranoá e o mesmo vale para estes minutos insones. Vazios minutos prejudicados pela agitação com vôos e aeroportos, vão se somar a todos os outros passados e fazer companhia a outros tantos, debitados da vida. Nem adianta sentir angústia: como é passageira, como é fugidia a vida do Homem.

O sucesso módico, o êxito pessoal não a salvam; trazem uma anestesia, põem uma missão aos seus pés. Os minutos vazios continuam se acumulando e somados, serão mais numerosos que as festas, as bebedeiras, as orgias. Quando a exaltação termina, eles seguem passando, cada vez em maior número, cercando os belos dias, os gloriosos dias com uma diáfana névoa de irrelevância. No início, você não percebe, mas a idade e o tempo esclarecem as coisas, ensinam a fazer o cálculo correto. Quantas vezes vou ainda correr em volta da Lagoa? Mais de cem? De quantas realmente me lembro? Talvez duas tardes. E assim o que chamava de Rio de Janeiro em mim vai morrendo.

Seria melhor dizer vai passando, se desfazendo, desbotando e fica bem menos triste desse jeito. E como uma roupa puída e rasgada, essas memórias vão ficando pitorescas. Você termina achando engraçado porque as coisas ruins também se vão, também são de somenos. Como um brinquedo antigo, guarda-se um certo afeto pastoral. Sei disso porque rio em segredo das coisas que me pareciam importantes; todas vão perecer de forma ridícula. São apenas gotas que caem, esses minutos.

Com o passar do tempo, você vai sendo libertado das mitologias de sua época, de sua geração, das manchetes dos jornais; não sente mais vontade de brigar com idéias e coisas que lhe pareciam ridículas ou nocivas. Você prefere ouvir música em casa. Sei que devo dar graças, sei que há nisso uma lição.


Ach wie flüchtig, ach wie nichtig
Ist der Menschen Leben!
Wie ein Nebel bald entstehet
Und auch wieder bald vergehet,
So ist unser Leben, sehet!


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