terça-feira, 15 de dezembro de 2009

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Minne é uma estranha palavra alemã. Quando a poesia dedicada às mulheres tornou-se um gênero literário respeitável nos tempos medievais, ela designava uma forma elevada do amor. Sob a inevitável pressão dos fatos da seleção sexual, contudo, passou a denotar formas de atração consideradas menos nobres. Qualquer que seja o conteúdo real desse último adjetivo. De forma surpreendente, a piedade protestante manteve viva a expressão Jesusminne para expressar um amor terno e pessoal a Jesus Cristo, pelo menino e pelo crucificado.

Como sentimento humano, Jesusminne sempre foi suspeito para as religiões organizadas. Sua intenção mística, a idéia de uma comunicação emocional imediata, o uso de imagens poéticas do amor cortês e a associação com o pietismo terminaram relegando-o a um capítulo obscuro da história das religiões. Como revela a evolução semântica da própria palavra minne, o Amor, mesmo o mais puro, termina decaindo. Sem o apoio das palavras, contudo, o amor terno a Jesus pode ser ainda contemplado na música. Somente ela mantém vivo o sentido preciso dos versos.

E assim ocorre com o coração que queima de amor e diz que nada na terra seria mais querido que o amado Emanuel, Pastor dos Crentes. Dolente, angustiada, ela nada mais quer senão guardar a Jesus. Apesar de toda a paixão confessa, perservera em sua nobreza: esta música foi feita para cantar o amor, mas dificilmente serviria para iluminar versos românticos tradicionais. Suave demais, piedosa demais.

As emoções humanas têm uma história. Há versos que exaltam a força do leão ao quebrar a espinha de uma ovelha tenra ou a lança afiada que penetra o crânio de um herói, que tomba. A eles concedemos a permissão da licença artística, podemos recitá-los sem temer por nossos escrúpulos modernos. Quando começam, porém, os acordes em honra do querido Emanuel, não estamos mais tão seguros de nossa proteção contra um espectro do passado.


Liebster Immanuel, Herzog der Frommen,
Du, meiner Seele Heil, komm, komm nur bald!
Du hast mir, höchster Schatz, mein Herz genommen,
So ganz vor Liebe brennt und nach dir wallt.
Nichts kann auf Erden
Mir liebers werden,
Als wenn ich meinen Jesum stets behalt.



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